sexta-feira, 6 de maio de 2011

Manifesto da montanha

Gosto de ir as montanhas, porque elas estão lá. E olham, e olhando veem coisas que o nosso olho não vê, quando está na planície; mas da planície vejo as montanhas e é tão belo vê-las.
E por isso vou até elas e descanso em seus ombros antigos. Para ver o que elas veem.

E quando ando pelas montanhas, ando por andar. E quando olho, olho por olhar. Não vou as montanhas para fazer perguntas, para isso vamos à escola. Ando pelas montanhas e olho, mas não busco nada, por isso vejo as coisas que estão em meu caminho e não as que estão na minha cabeça.

Ando pelas montanhas como o vento que passa devagar e não deixa marcas. Ando pelas montanhas como se nunca tivesse andando e olho como se nunca tivesse visto. E é por isso que sempre volto.

Vou as montanhas, mas não quero ser chamado de montanhista. Porque ser montanhista é estar nas montanhas e se me chamam de montanhista é para dizer que não estou nas montanhas e se estou, então, para que dizer?

Quando estou nas montanhas, gosto de permanecer quieto, pois as montanhas estão sempre em silêncio; porque sabem o que precisam saber e por isso não falam. É como disse o poeta: “falar é não saber”, sendo, assim, não falo sobre as montanhas, pois elas estão lá...
Ricardo Letenski 06/01/20011

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