terça-feira, 4 de outubro de 2011

Há dias que são como flores


Borboletas e devaneios
Passeiam pelas pétalas
Vão no rastro das cores
Dispersam perfume e polens
Exalam calma

Há dias que são como as flores
e nos assossegam a alma.


Ricardo Letenski

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Primavera mística

Era um dia de setembro de um ano qualquer em nossas vidas. Um dia desses comuns, que só apontam em uma direção e seguem em frente, com toda calma do mundo, vivendo no presente sua única e melhor esperança. Trazendo, agora, o cheiro alegre e reconfortante da primavera, a maior e mais bela festa das estações, na qual se avivam e se sintonizam todos os inocentes gênios da natureza, se unindo num imenso e caloroso abraço, que começa a envolver nosso meridiano, tocando com uma melodia incrivelmente delicada a alma das flores, despertando-as.

Elas se reúnem em bandos multicoloridos, abrindo suas pétalas e folhas, como nossos pequenos quando estendem suas minúsculas mãos para o intocável arco celeste. Embalados, de um lado, para o outro, pela música das esferas da vida e por uma força brilhante, tangendo em seus corações, como um tiro certeiro do amor universal, flechando com raios de sol, os grilhões, que desprendem a liberdade, para que os gérmens da luz possam florescer , celebrar e enfeitar a passagem dos ciclos, no confuso e maravilhoso teatro da vida, se movimentando, continuamente, abrindo e cerrando as cortinas do tempo.

O confortável e rechonchudo rosto solar madrugou sorridente e sonolento, com seu ar simpático e despreocupado. De quem conhece com clareza suas tarefas e limitações. Transformando as dificuldades, em ferramentas plenas, para manejar as labaredas indomáveis da felicidade e sabe, alegremente, espantar os problemas com paciência, compreensão e um largo sorriso camarada, quase debochado , mas muito substancioso e encorajador.

Com a naturalidade e a segurança de quem faz isso a milhões de anos, mas, ainda, com um jeito de menino. Salpicou um chuvisco de gotinhas no vazio, não eram de água, muito menos podiam ser poeira. Eram tão pequeninas que somente se estivessem juntas aos milhares alcançariam o tamanho de um grãozinho de areia. Feitas da mesma matéria soprada pela Criação nas narinas dos homenzinhos de barro para inflamar seus pulmões com a vida. As gotinhas brilharam, se espalharam e se confundiram com o ar. E a noite se desfez em pedacinhos.

Os pássaros cantaram de forma barulhenta, mas comovente, com voz de sininhos de cristal, bagunçados, mais pela variedade, que pelo vento matinal espalhado pelo chão; alguns se elevaram crescendo como gigantes pela altura, mas, que por vezes, desapareciam na distância, voltando para levar o céu cor de rosa até o azul, que as nuvens não pararam de esculpir.

O sol continuou com suas intermináveis obrigações, acariciou com um beijinho morno a face da perfumada Terra, tão suave e tão carinhosamente, que ela suspirou e uma brisa nasceu cambaleante pelo ar, arrojada pela confusão de muitíssimos jovenzinhos, luminosos, translúcidos, alguns pequenos como pontos e outros consideravelmente maiores, que só quem não barganhou sua inocência por um saquinho de ar, enfeitado com laçinhos coloridos, ainda consegue perceber.

Em seguida, seus amplos olhos de oceano, se despiram devagar , com o cuidado de um dedicado artista que cria com traços leves, porém inesquecíveis. Progressivamente, na medida do afastamento das pálpebras, alinhados mergulhadores, na forma de duras e compridas setas de luz, invadiram sua visão, que não parou de amanhecer.

Então, se fundiram, o Pai das Luzes com seus filhos de vento, bailando entre os passos debutantes da valsa. Caminharam pelas campinas retocando as cores do dia, que

desbotam para um descanso, mas que voltarão a se recompor, até que o menino lhes dá vida abandone seus corações.

Os passos tranqüilos da majestade combinaram com o solfejar delicado das inefáveis asas de princesas e príncipes de suas fabulosas criancinhas aéreas. Despencaram num salto inusitado com as águas, rabiscando as cachoeiras. Ele mergulhou no profundo e quase foi tocar as feridas do mar.

Os meninos agitados em travessuras marulharam e dobraram as ondas, que ora ,ou outra, se desfaziam numa explosão de espuma e grossas caudas de água salgada. As menininhas carinhosas e visivelmente mais apaixonadas que empolgadas, faziam tudo se encontrar no abraço repetitivo das praias.

Todos bailavam flutuantes no ar; seus movimentos contornaram nuvenzinhas de algodão e, outras granduras, que a imaginação pudesse recriar. No chão descreviam, conchas e montes de areia, longos gramados cobertos de flores com indecisas borboletas desocupadas ou decididas abelhas trabalhadeiras. Ainda, antigas montanhas erguendo-se como um longo dedo indicador apontando para um mundo azul ou por vezes lembrando grandalhões, tombados por um sono secular, imóveis, dando a impressão, silenciosa, quase de morte.

Seguiram, navegantes, escorrendo nos regatos, rolando os seixos no fundo do riacho e os amontoando em extensas e incontáveis camadas, às vezes, correndo velozes como o leopardo, mas sempre com refinado cuidado e detalhada atenção, nada que existe pôde se ocultar e toda natureza foi se completando.

Bateram na janela das casas e já e haviam escapado pelas frestas da porta, mas continuaram ali, ao mesmo tempo em, se esparramavam por toda parte. Já haviam secado as roupas no varal, cansado com a infância em seu balanço, levaram os trabalhadores embora. Ele foi dormir com a as galinhas, entregando seus satisfeitos filhos, ao seio da selene e adorada mãe noturna, de rosto delicadamente cintilante e juvenil, com cabelos iluminados, cor de prata enfeitados por uma guirlanda de estrelas.

O dia se foi, e as cortinas da noite se instalaram comodamente, entre os trilhos imaginários, que circunscrevem, as tarraxas da argola de greennwich, enroscadas no último bastão incendiado de sol, a escuridão se desatou desigual. Como o descorar das faces, de uma esférica e astronômica ânfora de barro se revestindo de lua nova, girando incessante na roda do oleiro.

A lua parecia um pingente de cristal encerado, enlaçada em um confuso cordão de pedrinhas brilhantes, que decorava uma caixinha de jóias azul marinho e luminosa. Refletia e podia ser vista por todas as parte. Formava círculos concêntricos prateados na serenidade espelhada da lagoa, que vez, ou outra, era interrompida pela minúscula vida de saltitantes criaturinhas noturnas. Pendia com a gota de orvalho na extremidade das folhas, saltava, de um, para outro, nos barulhentos vagões do trem e apanhava a menina dos olhos de quem a contemplasse.

Ricardo Letenski

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

LANÇAMENTO DO LIVRO POESIA DE SEGUNDA


Poesia de segunda (Série Lírica)

Edição: 1a

Páginas: 240

Formato: 14 x 21 cm

Peso: 150 g

Miolo: papel offset (LD) 90g/m²

Capa: cartão supremo LD 250g/m²

Ano de publicação: 2011

ISBN: 978-85-62450-20-4



Sobre os autores

Egerson Soares Pavão (Geógrafo, Ponta Grossa, PR, 1977), Ge Fazio (Pedagoga, Manhumirim, MG, 1951), José do Carmo Ligeski (Professor de Língua Portuguesa e Literatura, Jaguapitã, PR, 1954), Mário Sérgio de Melo (Geólogo, Votorantin, SP, 1952), Mariza Boscacci Marques (Bioquímica, Porto Alegre, RS, 1959), Ricardo Letenski (Geógrafo, Ponta Grossa, PR, 1983) e Rilka Lúcia de Jesus Bandeira (Professora de História, Maceió, AL, 1965).



Apresentação



O livro “Poesia de segunda” reúne a produção poética do grupo “poetas de segunda” (de Ponta Grossa, PR) ao longo de um ano, desde agosto de 2009 até agosto de 2010. Sete autores, de nove que começaram o grupo, permaneceram até a conclusão do livro. A maioria já tinha alguma experiência poética anterior, outros vieram iniciá-la no grupo. Para todos os sete a experiência no grupo tem sido muito estimulante e renovadora.

O nome “poetas de segunda” só se firmou no início de 2010, quando os encontros poéticos mostraram-se viáveis nas noites das segundas-feiras. A dinâmica dos encontros do grupo previa a escolha de dois temas (palavra, expressão ou foto), sobre os quais deveriam ser escritos os poemas para o encontro seguinte. Por esta razão, os poemas estão agrupados ao longo do livro por temas, numerados em sequência, na ordem cronológica de sua criação. São vinte e oito temas e cento e trinta e oito poemas.

Fazer poesia

(Ricardo Letenski)

É fazer um bocadinho de magia
É descobrir flores
Onde não se imaginaria

É encantar a palavra dormente
Fazê-la ressoar divinamente
Silenciosa sinfonia

É acordar a criança
Que dormia
Na lembrança


É poder desarrumar as estrelas
E rabiscar o céu numa noite vazia
Em que não se pode tê-las

É desemaranhar
Um novelo de lã
De palavras embaralhadas

É espiar pelo buraco da fechadura
Fria, e sondar o universo
É remendar um tecido controverso

É caçar borboletas
Com um par de varetas
Em plena ventania

Entender de poesia
Isso já é querer demais
Prum único dia
Para breves mortais...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Apanhador de Sonhos


No vazio, a aranha
estica o primeiro fio
que se junta ao vento
para alçar o galho...

Quieta, ela acompanha
o movimento que dá asas
ao seu trabalho

Fio a fio, descarrila
Sobe, desce
Tece a armadilha

Entrelaça habilidosa
o círculo da vida
ao da morte pegajosa

Então,
despercebida espreita
o farfalhar aéreo
da borboleta

Assim,
de seu imperceptível
mundo medonho
o esbarrão terrível
apanha um sonho...

Ricardo Letenski


Foto: Aranha Tecedeira - São João do Triunfo - Rio da Vargem

domingo, 15 de maio de 2011

Amarelo

Foto: Calea longifolia Gardner - Parque Estadual de Vila Velha - Ricardo Letenski.

domingo, 8 de maio de 2011

Pinha


A tarde definha
o silencio se parte
contra o chão.
É o despencar das pinhas
esparramando pinhão.


Ricardo Letenski

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Manifesto da montanha

Gosto de ir as montanhas, porque elas estão lá. E olham, e olhando veem coisas que o nosso olho não vê, quando está na planície; mas da planície vejo as montanhas e é tão belo vê-las.
E por isso vou até elas e descanso em seus ombros antigos. Para ver o que elas veem.

E quando ando pelas montanhas, ando por andar. E quando olho, olho por olhar. Não vou as montanhas para fazer perguntas, para isso vamos à escola. Ando pelas montanhas e olho, mas não busco nada, por isso vejo as coisas que estão em meu caminho e não as que estão na minha cabeça.

Ando pelas montanhas como o vento que passa devagar e não deixa marcas. Ando pelas montanhas como se nunca tivesse andando e olho como se nunca tivesse visto. E é por isso que sempre volto.

Vou as montanhas, mas não quero ser chamado de montanhista. Porque ser montanhista é estar nas montanhas e se me chamam de montanhista é para dizer que não estou nas montanhas e se estou, então, para que dizer?

Quando estou nas montanhas, gosto de permanecer quieto, pois as montanhas estão sempre em silêncio; porque sabem o que precisam saber e por isso não falam. É como disse o poeta: “falar é não saber”, sendo, assim, não falo sobre as montanhas, pois elas estão lá...
Ricardo Letenski 06/01/20011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

domingo, 13 de março de 2011

sábado, 5 de março de 2011

Jantar nas Montanhas - um poema da serra do mar

Este poema é inspirando na excursão que realizamos (Tati e eu) ao Pico Paraná na Virada de ano 2009-2010.



A noite chegou mansa, como uma boa mãe diligente, que envolve a criança dormente, a bela criatura amada numa manta bem limpinha, tão formosa, tão perfumada. A lua brilhou como o rosto de um anjo prudente e atento. As estrelas fizeram asas, voaram, ganharam o firmamento.

A viagem que nos trouxe até aqui, agora repousa na mente, foram muitas horas a subir pelo desfiladeiro, antes do poente. A Terra Boa, a cachoeira Arco-Íris, as flores nas pedras, a pedra do grito: onde a vista avoa por vales bem mais bonitos que na tela dos pintores; onde o bigornear das arapongas rompe os ares com sons comovedores; donde rústicos dedos de pedras toscas tecem delicadas neblinas; donde as casinholas parecem casinhas de bonecas pequeninas; onde os sonhos escapam do peito e escarpam o próximo leito de rio.

Acendo o pavio da vela de cera com cheiro de mel, dentro da barraca coberta pelo céu no seio das montanhas que cerram o mar; aonde sempre veio a passeio, mas queria mesmo era ficar. Plantar um ranchinho com fogão de lenha, pomar e varanda. Tocar violão, para os gnomos cantarolarem e as fadas fazerem ciranda.
A ausência do peso das mochilas nos deixou leves, leves ficaram nossas almas que como a névoa da paisagem se mesclaram à serenidade que se encontra no cimo dos montes, longe da euforia das cidades. As noites calmas de acampamento são para os que peregrinam pelos montes um prazer e um contentamento sinceros. Como beber água que jorra da fonte depois de um dia severo de sol. É a hora em que as mãos suaves do arrebatamento desatam os pesos do pensamento e do corpo, deixando a magia se aconchegar. É o momento do jantar, simples, mas tão generoso como o mais refinado manjar. O fogareiro umedecido pelo orvalho que se assentou na relva fina em que jazia esquecido, logo, resplandeceu com suas labaredas azul-esverdeadas, vermelhas ritmadas. As mãos afobadas fizeram a água da garrafa soluçar na panela que a sombra ocultava, enquanto outras duas seguravam-lhe as asas e tão breve puderam foram colocadas sobre as hastes entortadas que gemeram com o peso do caldeirãozinho prateado.

O canivete com cabo amadeirado feriu o saquinho de sopa com legumes desidratados que chiaram antes de mergulhar no líquido que ansiava por querer borbulhar. A tampa um pouco amassada como um chapéu velho encontrou sustentação, enquanto a chama enfumaçada tostava o fundo da panela que ficou negro como tição. Os vapores que escaparam das fervuras pelo ar, enfeitiçando as narinas com seus odores, aqueceram nosso pequeno abrigo numa colina harmoniosa, pressagiando a sopa deliciosa.

Nossa luz embaçada se perdia no infinito, a rolha de cortiça escapava do vinho tinto. O licor rubro embebedou o canecão que ficou com as largas bordas manchadas cor de uva. Os olhos procuravam pelo pão, as mãos despiam-se das luvas que caiam pelo chão para agarrar os talheres e os pratos improvisados em dois potinhos que, em breves segundos, ficaram plenos de ensopado que a mulher amada compartilhava com muito carinho. Agradecemos calados aos seres do paraíso pelos ansiados alimentos que recebemos. Entre sopros e sorrisos; tragos e colheradas. Ficamos saciados, embriagados e adormecemos; com uma boa dose de exaustão, algumas tigelas de sopa embebida em retalhos de pão, meia garrafa de vinho, uma noite enevoada e um abraço justinho ouvindo o coração contente da namorada.

Ricardo Letenski

nosso pequeno abrigo numa colina harmoniosa


A lua brilhou como o rosto de um anjo prudente e atento.


a panela que a sombra ocultava

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Livro: "PATRIMÔNIO NATURAL DOS CAMPOS GERAIS" disponível para download

A obra é constituída por vinte e três capítulos com temas que integram uma visão holística da região: rochas, relevo, hidrografia, clima, solos, vegetação, fauna, arqueologia, uso da terra, história de ocupação, sistemas produtivos atuais, alternativas energéticas, unidades de conservação, empreendimentos sustentáveis e perspectivas regionais.

O livro foi organizado pelos professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Mário Sérgio de Mello, Rosemeri Segecin Moro e Gilson Burigo Guimarães e reuni cerca de 35 autores.

Segundo os editores, os Campos Gerais, ao mesmo tempo em que apresentam rico patrimônio natural a ser preservado e aproveitado em atividades como turismo e lazer ecológico, pesquisa cientifica e educação ambiental, são palco de intensa atividade econômica, o que coloca em risco a preservação desse patrimônio.

O livro é resultado de projetos de pesquisa desenvolvidos pela UEPG entre os anos 2000 e 2006 e complementados com os resultados dos estudos de pesquisadores de outras instituições do Paraná.

Os estudos foram realizados com o objetivo de aprofundar o conhecimento do patrimônio natural dos Campos Gerais, de forma a orientar para a sua conservação e uso sustentável, subsidiando um projeto mais abrangente de integrar a gestão do patrimônio natural e cultural da região.

Além do patrimônio cultural (tipos de unidades de rochas, jazigos, fossilíferos, relevos de exceção, hidrografia, flora e fauna), também foram levantados dados sobre os sítios arqueológicos, ainda pouco estudados na região, e freqüentemente associados a abrigos naturais.

O livro foi disponibilizado para download, oficialmente no seguinte link:

http://ri.uepg.br:8080/riuepg/handle/123456789/233/browse?type=dateissued

cada capitulo deve ser baixado separadamente.